sexta-feira, 4 de junho de 2010

Segunda mãe.

Texto beeem antigo...


Entrei naquele quarto pequeno, e logo a sensação familiar de que aquele não é o meu lugar povoou minha mente me deixando tentada a fugir dali, mas apenas por ela estar ali eu segui em frente.

No caminho encontrei tantos olhares acusativos e aliviados, tão contraditórios quanto os meus pensamentos. Até que o caminho até a cama donde ela estava, serena e desligada do mundo se transformou em um abismo maior do que eu havia imaginado parecer. Não consegui chegar perto. Ah como hoje eu me arrependo disso. Fiquei sentada no sofá que se localizava na frente da cama, me dando uma visão ampla das feições que estavam tão normais que eu chegava a me surpreender. Senti meus olhos arderem e encherem de lágrimas, mas me fiz forte pra ela. Me fiz forte por ela.

Naquele momento cheguei até sentir um pouco de inveja de tão serena que ela estava imersa em seus sonhos. Paz era a única coisa que eu necessitava naquele momento. Com o tempo acabei ficando cansada e deitei no sofá e forcei o sono chegar implorando para que não tivesse sonhos.

Meus sonhos atendendo aos meus pedidos foram vazios, incompreensíveis e esquecidos, e no meio da madrugada eu acordei e vi uma outra mulher em pé ao lado dela, segurando sua mão. Talvez o desgaste, tanto mental quanto físico, ou apenas o cansaço não me fizeram ver a cena nitidamente, mas eu percebi que aquela mulher era a minha avó. Não do jeito que a conheci, velha e vagarosa, era a minha avó completamente diferente. Ela estava nova, usava um vestido claro que realçava seu corpo violão, magra, cabelos castanhos, longos e lisos, e um sorriso que eu sabia já ter visto em algum lugar. Talvez quando ela olhava para mim e me dizia “minha neta preferida” como se eu fosse um milagre. A sua mão segurava a dela mesmo inconsciente. Depois de perceber meu olhar fixo, minha avó finalmente direcionou o dela ao meu por um longo tempo, até tornar a olhar para ela, seguindo de uma lágrima que caiu de seu rosto sem desfazer seu sorriso e seu olhar que era um misto de alegria e alívio. Como por despedida olhou mais uma vez para mim e sumiu.

Voltei a dormir e só acordei depois que ouvi a minha tia chegar ao quarto.

As lágrimas que um dia caíram insanamente foram interrompidas apenas para dizer de uma forma quase inaudível “Eu sinto muitas saudades do seu sorriso vó”, e a cada gota que cai dos meus olhos eu vejo uma lembrança que eu queria guardar para nunca mais esquecer, principalmente do riso que me contagiava e sempre me dava ânimo para começar uma nova semana.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog. Ele tem cores em tons agradáveis e seu texto está muito, muito bom.
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Até o próximo post...

Morangos Falantes disse...

muito interessante o blog...


http://atosouomissoes.blogspot.com/ dá uma olhada

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