segunda-feira, 24 de outubro de 2011

24/10

Tava no provador brincando com as roupas das bailarinas.

- Ori, ocorreu uma urgência, o [não lembro o nome] está muito nervoso e só quer tocar com uma mão, tem como você tocar com a mão esquerda a música [não lembro qual].

- Mas eu nunca toquei essa música...

- Não tem problema, é fácil, toma a cifra, você tem meia hora pra ler ela.

Fui pra sala de instrumentos correndo pra pegar um teclado. Num demorou muito ele aparece.

- Você enlouqueceu? Temos 10 minutos, corre pra lá!

Anunciaram o nome do guri, eu tava tremendo e ainda com o chapéu de uma das dançarinas.

Eu apareci no meio e percebi que todo mundo calou, meio que se perguntando “o que que essa garota tá fazendo junto?”.

A luz apagou e só ficou um holofote em cima de mim e do guri e do teclado a nossa frente. Meu desespero sempre se acalma nessas situações, por que sempre fica um breu a minha frente, e todos se calam pra ouvir. Parece que estou sozinha no meu quarto.

Começou a tocar e até que deu certo, a música era popular, e dava até pra brincar um pouco. Lembrei que eu estava com o chapéu de uma das dançarinas. Até que estava estiloso, mas eu estava tão nervosa, e na época era tão tímida que bem devagar eu fui tirando o chapéu e largando no chão.

Minhas mãos que estavam tremendo não tremiam mais, a música me acalmava, e acho que até o meu relaxamento fez o guri tocar melhor.

Quando a música terminou teve uns que aplaudiram de pé, talvez eram os pais do guri, mas eu tenho certeza que tinha um grupo de amigos que adoravam me ver em situações constrangedoras, e os meus pais que babavam na primeira fila.

Saí de fininho e o mestre vira pra mim e fala “tá indo aonde? Você é a próxima. E coloca o chapéu que teve gente que gostou. Anda, anda, anda!”


ps.: Da época que teclado era o meu refúgio.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Ela.

A pequena desenhista, filha de uma paciente minha apelidada assim por só ficar quieta quando dou um lápis e papel pra ela desenhar, chegou pra mãe e mostrou o papel.
- Nossa, que bonito, o que você desenhou aqui?
- Eu.
- Ah, muito bonita, continua desenhando lá.
Não demorou muito ela apareceu de novo mostrando o papel.
- E quem é essa agora?
- Você.
- Aaah como eu sou bonita, continua lá desenhando.
Demorou um pouco ela apareceu de novo.
- Quem é?
- Vovó.
- Nossa, muito bonita, agora vai lá que mamãe tá ocupada.
Demorou mais um tempo e ela voltou novamente. A mãe meio surpresa perguntou:
- Ué, quem é essa?
- Ela.
E aponta pra mim.

Como me fazer derreter com uma pequena palavra de 3 letras.
Juro que o resto do dia eu fui puro sorriso, e nem liguei pro tempo nublado.